A tertúlia, o colóquio, a reunião no Café Martinho com Pessoa a liderar, com Raul Leal o das barbas pretas e chapéu d'época, o António Botto logo depois e Augusto Ferreira Gomes em pé atrás, o do esoterismo, fronte a fronte em primeiro plano Pessoa à direita e à esquerda um desconhecido, 'muito conhecido' de Fernando que se pode identificar [parece-me] pela fórmula antropológica da face pouco comum, de Angelo Lima, que Pessoa evocou como poeta do Orfeu.
sexta-feira, março 05, 2010
quarta-feira, novembro 25, 2009
a vitalidade do conhecimento
era gelo que rolava bola de neve
salgueiros de ramadas caídas
flor azul perdeu a cor e pétalas
d’água em falas eclécticas
em descanso natural do mundo
correntes de lágrimas frígidas
as nuvens de matéria indivisível
hesitam e caem sobre pérgulas
floridas na vitalidade do tempo;
reencontram-se a tragédia e poema
imitando a natureza o conhecimento...
salgueiros de ramadas caídas
flor azul perdeu a cor e pétalas
d’água em falas eclécticas
em descanso natural do mundo
correntes de lágrimas frígidas
as nuvens de matéria indivisível
hesitam e caem sobre pérgulas
floridas na vitalidade do tempo;
reencontram-se a tragédia e poema
imitando a natureza o conhecimento...
quinta-feira, novembro 12, 2009
já no tempo a cultura clássica
Numa pesquisa que, diariamente efectuo, encontrei um poema de 1944 de um brilhante
professor doutor da Univ. de Lisboa, com o pseudónimo Duarte de Montalegre, de quem
dou notícia com os meus cumprimentos.
"POEMA"
Estátua breve
ergue-se em luz,
falou:
-Não queiras, homem, ser quimera
Ó quem me dera
não ser quem sou.
Estátua breve
desfez-se em bruma,
morreu.
E hoje no universo há uma certeza
mas bem me pesa:
-Sou eu!
Duarte Montalegre
[Do livro recentemente publicado
Angústia, 1944]
quinta-feira, outubro 29, 2009
condomínio à bolina do Tejo
...um PRATO
sem P ÉRato mas
RATO com P no meio
é R A P T O logo
UMA RATO RAPTOU UM PRATO
E Liter, de literatura UM
aturaR sempre se atura
Quem não gosta de LITERar
A T U R A quem atura
nesta mansa sombração dita ura
atura a literatura segura...
MAS então
palavrear sensaborão
sen-sabão nem nada de barriga apertada
CÁZIA que temos no ESTâMAGO
P0is de aziÀticas sais FRUTAS
AR-ROTA se descansa
e Brasil a descoberto: está certo
está certo está certo está certo
Sô Cabral da Portugália:
“o r t o g r á v i a”
(cartaz de parede)
sem P ÉRato mas
RATO com P no meio
é R A P T O logo
UMA RATO RAPTOU UM PRATO
E Liter, de literatura UM
aturaR sempre se atura
Quem não gosta de LITERar
A T U R A quem atura
nesta mansa sombração dita ura
atura a literatura segura...
MAS então
palavrear sensaborão
sen-sabão nem nada de barriga apertada
CÁZIA que temos no ESTâMAGO
P0is de aziÀticas sais FRUTAS
AR-ROTA se descansa
e Brasil a descoberto: está certo
está certo está certo está certo
Sô Cabral da Portugália:
“o r t o g r á v i a”
(cartaz de parede)
domingo, abril 19, 2009
segunda-feira, dezembro 22, 2008
poesia latina
POESIA LATINA
O SÉCULO DO OURO
A prosa romana conhecera a sua idade do ouro com César e Cícero; é preciso esperar pelo reinado de Augusto para ver a poesia atingir o seu ponto mais alto com poetas como Virgílio, Horácio, Propércio, Tibulo e Ovídio. O latim adquiriu nas suas mãos uma ressonância e uma riqueza de expressão até então nunca atingidas . Estes poetas puderam consagrar-se inteiramente à poesia, graças sobretudo a Augusto. O imperador fizera de Roma um centro artístico, dotando-a de obras de arte e de construções monumentais; encorajava igualmente os poetas a exaltarem o seu reinado nas obras e a prepararem o espírito do povo para a ideia monárquica. Com este objectivo, convidava os poetas para a sua corte e cumulava-os de provas de amizade, realçando assim o seu prestígio social. E escutava interessadíssimo as suas obras, aplaudia-lhes os sucessos e recompensava os seus méritos, assegurando-lhes uma existência livre de quaisquer preocupações matérias. O melhor colaborador de Augusto na realização desta obra cultural foi Mecenas, seu rico e nobre amigo.
Este progresso cultural valeu ao reinado de Augusto um lugar de honra na história, ao lado do século de ouro de Atenas, no tempo de Péricles.
Virgílio era o mais idoso dos grandes poetas que viveram no reinado de Augusto; os próprios romanos o consideravam o maior dos seus poetas.[...]
No seu primeiro ciclo poético, Bucólicas, Virgílio canta a vida pastoril, a exemplo de Teócrito, sem todavia igualar a frescura e a originalidade do seu modelo. Os pastores de Virgílio aparecem-nos, muitas vezes, como elegantes cortesãos disfarçados de pastores. Todavia, as Bucólicas facultavam a uma geração de cidadãos muito cultos o mundo da natureza e da inocência, onde todos aqueles a quem o alvoroço da cidade cansa podem encontrar repouso.
Virgílio escreveu os seus idílios pastoris quando as sangrentas batalhas de Filipos acabavam de decidir da sorte do mundo, assim como nos anos que se seguiram. E é precisamente nestas circunstâncias que se deve encontrar a causa da sua grande popularidade; as Bucólicas facultavam uma calma bem-vinda numa época perturbada.
No mais comentado destes poemas, o IV, o poeta prevê a vinda de uma idade de ouro a seguir às dilacerantes guerras civis, uma época em que a terra oferecerá aos homens ceifas doiradas, sem sementeiras prévias, em que a vinhas darão uvas sem ser preciso podá-las, em que o “rebanho não mais tremerá diante do leão, a serpente morrerá e o mel correrá como orvalho do tronco dos carvalhos”.
Esta idade de será anunciada pelo nascimento de uma criança que reinará como um deus num mundo de abundância.
Quem é esta criança cujo o nascimento é previsto pelo poeta em termos tão arrebatados? Piedosos cristãos julgaram ver neste poema primeira luz da estrela que guiou os sábios do Oriente para a manjedoura de Belém. As significativas imagens da Bíblia –o rebanho, os pastores, a serpente que devia morrer –reforçavam-lhe esta convicção: o porta referia-se a Jesus. [...]
Não é, evidentemente, impossível que Virgílio provêm de poetas helénicos e helenísticos mais antigos, como Píndaro, por exemplo, e de cânticos, universalmente conhecidos, sobre os felizes tempos da idade do ouro. Os discípulos de Platão e de Pitágoras estavam intimamente convencidos do iminente retorno dessa época; oráculos e sibilas tinham-no igualmente previsto. Parece que todas estas profecias tem sua origem têm a sua origem no Egipto, o primeiro país culto, berço de misteriosos conceitos místicos. Depois de todas as provações sofridas pela geração de Virgílio, o desejo de paz e a esperança de em breve a ver reinar sobre a Terra eram mais fortes que nunca. [...]
Um facto subsiste, porém: o poema foi feito por Virgílio e exprime um profundo sentimento de humanidade, a aspiração à paz, ao amor, à concórdia entre os homens. Originário das aspirações de Roma, das tradições orientais, ou misticismo helenístico, o poema traduz, com a forma belíssima, a tendência para a perfeição do homem individual e colectivo que domina a humanidade.
Embora a sua previsão se tivesse revelado inexacta, o poema de Virgílio contem um valor permanente: mostra-nos a atmosfera de uma época profundamente infeliz, em que cada um fazia votos pelo desfecho de uma situação inextricável, e revela o profundo valor moral, estimulante, da esperança.
sábado, novembro 29, 2008
domingo, novembro 16, 2008
novo livro de poemas 2008
"poemas em estado de sítio", de Manuel Varella .
[...]
'Lembras as roturas da montagem
de Souza-Cardoso em Nova Iorque,
a qualidade da pintura e tudo?
o português comparado a Pablo
nesse dia obtusonão saiu errado.
Entrámos sem dizer nada e repetiste
a frase, isto fere-me, tal qual Almada'
excerto
de poema
longo
domingo, novembro 02, 2008
brometo de sódio
sábado, outubro 11, 2008
lembrar a poeta da távola redonda
de Fernanda Botelho
AS COORDENADAS LÍRICAS
aos 25 anos de idade[1951]
Desviou-se o paralelo um nada
e tudo escureceu:
era luz disfarçada em madrugada
a luz que me envolveu.
A geométrica forma de meus passos
procura um mar redondo.
Levo comigo, dentro dos meus braços,
oculto, todo o mundo.
Sozinha já não vou. Apenas fujo
às negras emboscadas.
Em cada esfera desenho o meu refúgio
- as minhas coordenadas.
domingo, setembro 14, 2008
em Memória a Luciana Stegagno Picchio
1965. Confesso que tive curiosidade em conhecer a professora da Universidade de Roma La Sapienza, Luciana Stegagno Picchio, então em Lisboa para o lançamento da sua Storia del Teatro Portoghese, traduzida por Manuel de Lucena, em 1964, corrigida e aumentada pela autora .
E agora já é tarde porquanto partiu para sempre aos 88 anos. Presto aqui homenagem à sua Memória, sapiência, e forma como despertou neste país a verdade do Teatro português, de que antes ninguém o tinha estudado como Luciana Stegagno Picchio.
Dedicatória com que a grande investigadora me honrou.
[12 de Maio de 1965]
Telefonei a Luciana Picchio por intermédio da editora a propor-lhe aceder a uma entrevista para o Magazine cultural Feira Literária, da RTP. A simpatia pessoal, ao tempo, da 'jovem' professora catedrática transmitiu-me um 'á-vontade' deveras impressionante, dado que se tratava de um 'atrevido' aprendiz de teatro, inclusivamente, com a audácia de ter sublinhado certas passagens do texto e por mim apostilado mas não ofensivo, diga-se. A entrevista foi um pretexto de conversa sadia e muito gratificante; mais uma lição e uma conversa do que propriamente uma entrevista à maneira clássica da pergunta e da resposta [...].
Depois, nunca mais soube da Professora Luciana Picchio, nem voltei a encontrá-la...E agora já é tarde porquanto partiu para sempre aos 88 anos. Presto aqui homenagem à sua Memória, sapiência, e forma como despertou neste país a verdade do Teatro português, de que antes ninguém o tinha estudado como Luciana Stegagno Picchio.
Dedicatória com que a grande investigadora me honrou.
[12 de Maio de 1965]
terça-feira, setembro 09, 2008
uma antropologia cultural em MiguelTorga
<-click na fotografia e veja pela presença do Poeta a ideia do texto
A noção de poético designa rigorosamente a actividade produtora de objectos distintos, exteriores ao homem; em termos aristotélicos, tem por fim, a produção de uma obra exterior ao agente, por oposição à actividade prática [derivada de prattein, agir] que supõe a acção pura e simples e termina no interior da natureza humana. Eis a razão por que importa admitir que um facto de arte, seja de que natureza for, provém da actividade poética. [...]
Recolhe-se a ideia mitologica das situações que a Antropologia Cultural reconhece, no âmbito dos meios utilizados por um “artista”, por um “criador”, por um “emissor” , aspirando sempre conhecer-se como homem total, o 'poeta que fez de si mesmo um problema'.[...]
“Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem,
È um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.
Terra, minha aliada
Na criação!
Seja funda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração
Terra, minha mulher!
.... .... .... .... .... .... ... ..... ....
A charrua das leivas não concebe
... ... ... ... ... .... ... ... .... .... .... ... ....
Terra, minha canção!”
(excerto de Odes, Miguel Torga 1946)
A noção de poético designa rigorosamente a actividade produtora de objectos distintos, exteriores ao homem; em termos aristotélicos, tem por fim, a produção de uma obra exterior ao agente, por oposição à actividade prática [derivada de prattein, agir] que supõe a acção pura e simples e termina no interior da natureza humana. Eis a razão por que importa admitir que um facto de arte, seja de que natureza for, provém da actividade poética. [...]
Recolhe-se a ideia mitologica das situações que a Antropologia Cultural reconhece, no âmbito dos meios utilizados por um “artista”, por um “criador”, por um “emissor” , aspirando sempre conhecer-se como homem total, o 'poeta que fez de si mesmo um problema'.[...]
“Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem,
È um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.
Terra, minha aliada
Na criação!
Seja funda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração
Terra, minha mulher!
.... .... .... .... .... .... ... ..... ....
A charrua das leivas não concebe
... ... ... ... ... .... ... ... .... .... .... ... ....
Terra, minha canção!”
(excerto de Odes, Miguel Torga 1946)
terça-feira, abril 29, 2008
a sombra e sonhos de Bernardo Soares
"O que há de mais reles nos sonhos é que todos os têm.
Em qualquer coisa pensa no escuro o moço de fretes que
modorra de dia contra o candeeiro o intervalo dos carretos.
Sei em que entrepensa: é no mesmo em que eu me abismo
entre o lançamento e lançamento no tédio estival
do escritório quietíssimo."
in Livro do Desassossego, Lisboa, 2007.
quarta-feira, dezembro 12, 2007
fernanda botelho [porto 1926-lisboa 2007]
No ano de 1958, quando Fernanda Botelho publicou, Calendário Privado, dizia-se: "Poeta conhecida de um reduzido sector intelectual, ei-la que obtém, repentinamente, a consagração do grande público e dá à crítica a consoladora esperança de ver sair o romance português da ambígua situação em que se encontrava (...)", escreveu no Diário de Notícias, ao tempo, João Gaspar Simões. Este crítico afinava sempre a sua brilhante prosa interpretativa dos novos valores, onde pressentia, o 'nascer' de um novo escritor. E acertou em breve tempo, com o o destino da obra e da escrita de Fernanda Botelho. Foi disso exemplo, o prémio Camilo Castelo Branco que recebeu em 1961, laureando o romance, A Gata e A Fábula (1960).
Sobre o estilo de Fernanda, Urbano Tavares Rodrigues, considera-a "de um rigor, de uma originalidade tais que a troca de um simples palavra na maioria das suas frases apagaria intensões. Este estilo acutilante, irónico, pessoalíssimo, todo ele nervo e criação, bastaria para impor decisivamente Fernanda Botelho (...)".
Esta enigmática escritora, já igualada ao estilo de Agustina , quando nos reencontrámos nos anos 80 num programa 'biográfico' que eu realizava para a RTP, senti esse 'enigmatismo' mas de uma forma positiva; na expressão vincada do conhecimento das respostas às nossas questões, não sem a ironia, que nunca prescindia connosco antes, durante e no final do trabalho. Era uma mulher extraordinária, excelente poeta da geração da Távola Redonda -uma época de grandes poetas -, e não menos prosadora, concretizado nos romances um estilo que de facto se liam..., leituras com enredos irónicos sim, mas que passam por metáforas como metáfora foi a sua vida.
Não gostaria de falar da sua morte mas no 'desfecho' da partida para uma eternidade que, no dizer das suas palavras bem recentes no jornal Público, que refere: "A morte, neste momento, não tem nada de assustador para mim. Assustador é o sofrimento, não a morte. Já vivi 76 anos, não é tão mau como isso. Evidentemente que, se chegasse aos 90, era capaz de querer os 100... Mas a partir daqui não pensar na morte é quase inconsciência. "
sábado, dezembro 08, 2007
novo livro de poemas
Manuel Varella
da arte da re-semântização
o ruído veio do outro lado do absurdo
onde a luz se amarra à vontade d'existir
capaz de um sentido realista, obtuso
e prosseguir no deserto sem rumo certo
contemplando como se transforma
as folhas de um livro ditado ao telefone;
as palavras luzem de raiva submissas
e comunicam onde o sol não existe
sem uma porta que nos dê o lado de lá
o sentido das folhas brancas sem escrita
na razão absoluta de horas bem tristes
da palavra que, da semântica, ressuscita.
excerto do Livro, "
quarta-feira, outubro 03, 2007
de Cesário Verde, excerto de "A Débil"
quinta-feira, setembro 13, 2007
Alexander Search
Alexander Search [1907]
A "meu maior amigo"
Quando eu morrer, eu sei, tu escreverás
Triste soneto à morte prematura;
Dirás que a vida cansa em amargura
E, pálido e frio, tu me cantarás.
Nas quadras, reflectido se lerá
De como, vã e breve, a vida expira
E como em terra funda, dura e fria,
A vida, má ou boa, acabará.
A seguir, nos tercetos, tu dirás
Que a morte é mistério, tudo fugaz,
Verdadeira, talvez, a vida além.
Por fim porás a data, assinarás.
E, relido o soneto, ficarás
Contente por tê-lo escrito bem.
Alexander Search
Poesia
edição e tradução
Luísa Freire
Assírio & Alvim
Obras de Fernando Pessoa
1999
_________
desenho e concepção
da figura heterónima
de Alexander Search de
Manuel Varella [2007]
quinta-feira, junho 14, 2007
sexta-feira, maio 11, 2007
quinta-feira, março 22, 2007
requiem por Jan Palach
Arde o coração de Praga,
Arde o corpo de Jan Palach,
Podemos dizer que o Rei Venceslau
Também viu crescer o fogo
Em que arde o coração de Praga.
E os cavaleiros da Boémia,
O Povo e os Grão-Senhores,
Os Operários de Pilsen,
Os Poetas e os Trovadores da Eslováquia
Todos ardem na Praça de Praga.
João Huss, queimando o seu corpo,
também arde nessa tarde e nessa praça.
-Queimamos a coragem e o heroísmo,
Queimamos a nossa infinita resistência.
Não é verdade, Soldado Schweik?
José Valle de Figueiredo
excerto do poema "Requiem por Jan Palach"
in O SEU A SEU POEMA
edição INCM, Lisboa, 2007
->A VOZ do POEMA
Arde o corpo de Jan Palach,
Podemos dizer que o Rei Venceslau
Também viu crescer o fogo
Em que arde o coração de Praga.
E os cavaleiros da Boémia,
O Povo e os Grão-Senhores,
Os Operários de Pilsen,
Os Poetas e os Trovadores da Eslováquia
Todos ardem na Praça de Praga.
João Huss, queimando o seu corpo,
também arde nessa tarde e nessa praça.
-Queimamos a coragem e o heroísmo,
Queimamos a nossa infinita resistência.
Não é verdade, Soldado Schweik?
José Valle de Figueiredo
excerto do poema "Requiem por Jan Palach"
in O SEU A SEU POEMA
edição INCM, Lisboa, 2007
->A VOZ do POEMA
quarta-feira, março 21, 2007
dia mundial da poesia2
dia mundial da poesia1
Hoje dia Mundial da Poesia... quase ninguém sabia.
Fui a várias livrarias na periferia de Lisboa, e
nada; nem Aleixo que aparece em toda a parte...
Fui a várias livrarias na periferia de Lisboa, e
sexta-feira, fevereiro 02, 2007
de Fernando a Fernando
Ano 2007
Na Casa Fernando Pessoa
a homenagem ao "to-caio"
Fernando Assis Pacheco;
a poesia portuguesa
agradece.
LOUVOR DO BAIRRO DOS OLIVAIS
Não tive nunca nada a ver com as
guitarras estudantes; eu vivia
num lento bairro da periferia
onde a chuva apagava os passos das
pessoas de regresso a suas casas
fazia compras na mercearia
e algum livro mais forte que então lia
já era para mim como um par d'asas
amigos vinham ver-me que eu servia
de ponche ou Madeira malvasia
para soltar as línguas livremente
um que bramava um outro que dormia
eu abria a janela e só dizia
ao menos estas ruas têm gente
in A Musa Irregular, de F. Assis Pacheco
Edições ASA, 2ªEd., Lisboa, 1996
_________
Nota de mv:
Fui conterrâneo de Fernando Assis Pacheco
e seu vizinho no anterior citado bairro da periferia
em Coimbra; a ter de começar uma biografia
sobre a sua vida, tê-la-ia feito tal qual descreve
o soneto e, a partir daqui, seria sempre a dobrar...
quinta-feira, janeiro 25, 2007
da reminiscência platónica
Cena da Ilíada, de Homero
Encontrarás perto da morada dos mortos, à esquerda, uma fonte
Junto a ela, todo branco, ergue-se um cipreste.
Essa fonte, não vás lá, dela não te aproximes.
Outra encontrarás que vem do lado da Memória,
água fria que brota. Ladeada de guardas.
Diz-lhes: Sou a filha da Terra e do Céu de estrelas,
mas tenho origem no Céu. Isso sabem-no vocês.
A sede consome-me e mata-me. Ah! dêem depressa
a água fria que brota do lago da Memória.
E permitir-te-ão beber da fonte divina,
e então entre todos os heróis, irás reinar.
Ilíada, Homero/Diels, 5ªEd.I,p.15 -edição portuguesa, Livros Cotovia
Encontrarás perto da morada dos mortos, à esquerda, uma fonte
Junto a ela, todo branco, ergue-se um cipreste.
Essa fonte, não vás lá, dela não te aproximes.
Outra encontrarás que vem do lado da Memória,
água fria que brota. Ladeada de guardas.
Diz-lhes: Sou a filha da Terra e do Céu de estrelas,
mas tenho origem no Céu. Isso sabem-no vocês.
A sede consome-me e mata-me. Ah! dêem depressa
a água fria que brota do lago da Memória.
E permitir-te-ão beber da fonte divina,
e então entre todos os heróis, irás reinar.
Ilíada, Homero/Diels, 5ªEd.I,p.15 -edição portuguesa, Livros Cotovia
segunda-feira, janeiro 22, 2007
o derradeiro frio no coração do homem
Edith Sitwell 1887-1964
Poeta inglesa, crítica, biógrafa, novelista e jornalista.
Manteve relacionamento íntimo com Virgínia Woolf; com a sua
governanta e professora de Francês Helen Rootham -excelente
tradutora- e foi amiga, com grande cumplicidade, de T.S.Eliot.
A poesia de Edith Sitwell tem a chancela do modernismo de 90;
a rara qualidade expressa na sua poesia, não o moderno "selvagem",
mas o estilo fino e experimentalista do poema, condensado em imagens dum
jogo poético, ora de discernimento e do oposto [o nonsense],
ora do metaforismo harmónico, oposto pelo dissonante...
Neste ano que decorre, 2007, passam 120 anos do nascimento de Edith Sitwell.
[...] Ah, em que era eu inferior à Morte,
Que à verdade faltasses? Agora, docemente, ó Idade,
Minha só companheira, aperta-me com força, para que eu
Esqueça o teu beijo. Os fogos foram do meu peito.
E, todavia,com se em chuva se fizessem,
O próprio coração, as minhas lágrimas
são fiéis ainda.
Há outra linguagem da Morte?
Por isso aqueles de que temos saudade voltam
Não mais! Por breves palavras de amor dizem...
Como ouviremos no clamor de Babel?
Não fazem ruído:
Os grandes movimentos do mundo passam sem estrondo;
Os dourados jovens,
Primavera grande, ao pó voltam como a quem amem...
E parte-se o coração sem ruído.*
Escreve Jorge de Sena a propósito da poesia de E.Sitwell:
"[...] é uma lição e um exemplo de arte poética, como é
também da magna missão oracular da poesia, está longe
de ser simples. Todo o seu estilo visa à expressão directa
de uma complicada transfiguração. As imagens sucedem-se,
inteligíveis na sua beleza inesperada, mas misteriosas na
relação para com a transfiguração que representam. Uma
mulher de olhar profundo se contempla se contempla e ao
fluir da vida, sabendo as formas que o fluir em todos os
tempos tomou. E a sua poesia, para significar essa presença
permanente do que se passa, é um sound like fear 'som como
terror', no qual segundo disse W.B.Yeats, 'regressa à literatura
algo ausente: [...] paixão enobrecida pela intensidade,
o sofrimento, a sabedoria' [...]".
________
*Poema The Road to Thebes, traduzido por Jorge de Sena,
ed.Relógio D´Água, Maio de 2005.
Poeta inglesa, crítica, biógrafa, novelista e jornalista.
Manteve relacionamento íntimo com Virgínia Woolf; com a sua
governanta e professora de Francês Helen Rootham -excelente
tradutora- e foi amiga, com grande cumplicidade, de T.S.Eliot.
A poesia de Edith Sitwell tem a chancela do modernismo de 90;
a rara qualidade expressa na sua poesia, não o moderno "selvagem",
mas o estilo fino e experimentalista do poema, condensado em imagens dum
jogo poético, ora de discernimento e do oposto [o nonsense],
ora do metaforismo harmónico, oposto pelo dissonante...
Neste ano que decorre, 2007, passam 120 anos do nascimento de Edith Sitwell.
[...] Ah, em que era eu inferior à Morte,
Que à verdade faltasses? Agora, docemente, ó Idade,
Minha só companheira, aperta-me com força, para que eu
Esqueça o teu beijo. Os fogos foram do meu peito.
E, todavia,com se em chuva se fizessem,
O próprio coração, as minhas lágrimas
são fiéis ainda.
Há outra linguagem da Morte?
Por isso aqueles de que temos saudade voltam
Não mais! Por breves palavras de amor dizem...
Como ouviremos no clamor de Babel?
Não fazem ruído:
Os grandes movimentos do mundo passam sem estrondo;
Os dourados jovens,
Primavera grande, ao pó voltam como a quem amem...
E parte-se o coração sem ruído.*
Escreve Jorge de Sena a propósito da poesia de E.Sitwell:
"[...] é uma lição e um exemplo de arte poética, como é
também da magna missão oracular da poesia, está longe
de ser simples. Todo o seu estilo visa à expressão directa
de uma complicada transfiguração. As imagens sucedem-se,
inteligíveis na sua beleza inesperada, mas misteriosas na
relação para com a transfiguração que representam. Uma
mulher de olhar profundo se contempla se contempla e ao
fluir da vida, sabendo as formas que o fluir em todos os
tempos tomou. E a sua poesia, para significar essa presença
permanente do que se passa, é um sound like fear 'som como
terror', no qual segundo disse W.B.Yeats, 'regressa à literatura
algo ausente: [...] paixão enobrecida pela intensidade,
o sofrimento, a sabedoria' [...]".
________
*Poema The Road to Thebes, traduzido por Jorge de Sena,
ed.Relógio D´Água, Maio de 2005.
domingo, janeiro 21, 2007
criadores de tudo
as gerações
neste Mundo,
a infância regressa
ao rio profundo,
à memória da paisagem
a minha história
a imagem, a calçada
em pedra livre
e castanha
a cor perdida na lava
a lagrimar sozinha
num sentir
quase humano
longe de ruídos
de antanho
prosa cantada
em lugar estranho
e ninguém diz nada
aqui neste caderno
onde a saudade
se recolhe
triste e arrefecida
num dizer
de nada querer...
as gerações
este Mundo
perderam tudo
sem vontade
de lutar.
adopção
ingénua e sorridente
criança, sem norte
nem segurança
nas mãos de qualquer
sorte, alma e mistério
do mundo desigual
numa tarde colorida
de aflições; a mãe
percorre montes
e valados perseguida
escondendo a cria,
em tempos rejeitada,
numa fúria de correr,
chegar cedo
e protegê-la
em qualquer lado...
sem medo
da justiça de Salomão
da criança cortada
em duas partes;
sim, ou não?
ninguém sabe.
criança, sem norte
nem segurança
nas mãos de qualquer
sorte, alma e mistério
do mundo desigual
numa tarde colorida
de aflições; a mãe
percorre montes
e valados perseguida
escondendo a cria,
em tempos rejeitada,
numa fúria de correr,
chegar cedo
e protegê-la
em qualquer lado...
sem medo
da justiça de Salomão
da criança cortada
em duas partes;
sim, ou não?
ninguém sabe.
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