segunda-feira, janeiro 22, 2007

o derradeiro frio no coração do homem

Edith Sitwell 1887-1964


















Poeta inglesa, crítica, biógrafa, novelista e jornalista.
Manteve relacionamento íntimo com Virgínia Woolf; com a sua
governanta e professora de Francês Helen Rootham -excelente
tradutora- e foi amiga, com grande cumplicidade, de T.S.Eliot.
A poesia de Edith Sitwell tem a chancela do modernismo de 90;
a rara qualidade expressa na sua poesia, não o moderno "selvagem",
mas o estilo fino e experimentalista do poema, condensado em imagens dum
jogo poético, ora de discernimento e do oposto [o nonsense],
ora do metaforismo harmónico, oposto pelo dissonante...
Neste ano que decorre, 2007, passam 120 anos do nascimento de Edith Sitwell.

[...] Ah, em que era eu inferior à Morte,
Que à verdade faltasses? Agora, docemente, ó Idade,
Minha só companheira, aperta-me com força, para que eu
Esqueça o teu beijo. Os fogos foram do meu peito.
E, todavia,com se em chuva se fizessem,
O próprio coração, as minhas lágrimas
são fiéis ainda.

Há outra linguagem da Morte?
Por isso aqueles de que temos saudade voltam
Não mais! Por breves palavras de amor dizem...

Como ouviremos no clamor de Babel?
Não fazem ruído:
Os grandes movimentos do mundo passam sem estrondo;
Os dourados jovens,
Primavera grande, ao pó voltam como a quem amem...
E parte-se o coração sem ruído.*

Escreve Jorge de Sena a propósito da poesia de E.Sitwell:
"[...] é uma lição e um exemplo de arte poética, como é
também da magna missão oracular da poesia, está longe
de ser simples. Todo o seu estilo visa à expressão directa
de uma complicada transfiguração. As imagens sucedem-se,
inteligíveis na sua beleza inesperada, mas misteriosas na
relação para com a transfiguração que representam. Uma
mulher de olhar profundo se contempla se contempla e ao
fluir da vida, sabendo as formas que o fluir em todos os
tempos tomou. E a sua poesia, para significar essa presença
permanente do que se passa, é um sound like fear 'som como
terror', no qual segundo disse W.B.Yeats, 'regressa à literatura
algo ausente: [...] paixão enobrecida pela intensidade,
o sofrimento, a sabedoria' [...]".
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*Poema The Road to Thebes, traduzido por Jorge de Sena,
ed.Relógio D´Água, Maio de 2005.

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