domingo, setembro 14, 2008

em Memória a Luciana Stegagno Picchio


1965. Confesso que tive curiosidade em conhecer a professora da Universidade de Roma La Sapienza, Luciana Stegagno Picchio, então em Lisboa para o lançamento da sua Storia del Teatro Portoghese, traduzida por Manuel de Lucena, em 1964, corrigida e aumentada pela autora .
Telefonei a Luciana Picchio por intermédio da editora a propor-lhe aceder a uma entrevista para o Magazine cultural Feira Literária, da RTP. A simpatia pessoal, ao tempo, da 'jovem' professora catedrática transmitiu-me um 'á-vontade' deveras impressionante, dado que se tratava de um 'atrevido' aprendiz de teatro, inclusivamente, com a audácia de ter sublinhado certas passagens do texto e por mim apostilado mas não ofensivo, diga-se. A entrevista foi um pretexto de conversa sadia e muito gratificante; mais uma lição e uma conversa do que propriamente uma entrevista à maneira clássica da pergunta e da resposta [...].
Depois, nunca mais soube da Professora Luciana Picchio, nem voltei a encontrá-la...
E agora já é tarde porquanto partiu para sempre aos 88 anos. Presto aqui homenagem à sua Memória, sapiência, e forma como despertou neste país a verdade do Teatro português, de que antes ninguém o tinha estudado como Luciana Stegagno Picchio.

















Dedicatória com que a grande investigadora me honrou.
[12 de Maio de 1965]

terça-feira, setembro 09, 2008

uma antropologia cultural em MiguelTorga

<-click na fotografia e veja pela presença do Poeta a ideia do texto


A noção de poético designa rigorosamente a actividade produtora de objectos distintos, exteriores ao homem; em termos aristotélicos, tem por fim, a produção de uma obra exterior ao agente, por oposição à actividade prática [derivada de prattein, agir] que supõe a acção pura e simples e termina no interior da natureza humana. Eis a razão por que importa admitir que um facto de arte, seja de que natureza for, provém da actividade poética. [...]
Recolhe-se a ideia mitologica das situações que a Antropologia Cultural reconhece, no âmbito dos meios utilizados por um “artista”, por um “criador”, por um “emissor” , aspirando sempre conhecer-se como homem total, o 'poeta que fez de si mesmo um problema'.[...]


“Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem,
È um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja funda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração

Terra, minha mulher!
.... .... .... .... .... .... ... ..... ....
A charrua das leivas não concebe
... ... ... ... ... .... ... ... .... .... .... ... ....
Terra, minha canção!”
(excerto de Odes, Miguel Torga 1946)