segunda-feira, dezembro 22, 2008

poesia latina



POESIA LATINA
O SÉCULO DO OURO

A prosa romana conhecera a sua idade do ouro com César e Cícero; é preciso esperar pelo reinado de Augusto para ver a poesia atingir o seu ponto mais alto com poetas como Virgílio, Horácio, Propércio, Tibulo e Ovídio. O latim adquiriu nas suas mãos uma ressonância e uma riqueza de expressão até então nunca atingidas . Estes poetas puderam consagrar-se inteiramente à poesia, graças sobretudo a Augusto. O imperador fizera de Roma um centro artístico, dotando-a de obras de arte e de construções monumentais; encorajava igualmente os poetas a exaltarem o seu reinado nas obras e a prepararem o espírito do povo para a ideia monárquica. Com este objectivo, convidava os poetas para a sua corte e cumulava-os de provas de amizade, realçando assim o seu prestígio social. E escutava interessadíssimo as suas obras, aplaudia-lhes os sucessos e recompensava os seus méritos, assegurando-lhes uma existência livre de quaisquer preocupações matérias. O melhor colaborador de Augusto na realização desta obra cultural foi Mecenas, seu rico e nobre amigo.

Este progresso cultural valeu ao reinado de Augusto um lugar de honra na história, ao lado do século de ouro de Atenas, no tempo de Péricles.

Virgílio era o mais idoso dos grandes poetas que viveram no reinado de Augusto; os próprios romanos o consideravam o maior dos seus poetas.[...]
No seu primeiro ciclo poético, Bucólicas, Virgílio canta a vida pastoril, a exemplo de Teócrito, sem todavia igualar a frescura e a originalidade do seu modelo. Os pastores de Virgílio aparecem-nos, muitas vezes, como elegantes cortesãos disfarçados de pastores. Todavia, as Bucólicas facultavam a uma geração de cidadãos muito cultos o mundo da natureza e da inocência, onde todos aqueles a quem o alvoroço da cidade cansa podem encontrar repouso.
Virgílio escreveu os seus idílios pastoris quando as sangrentas batalhas de Filipos acabavam de decidir da sorte do mundo, assim como nos anos que se seguiram. E é precisamente nestas circunstâncias que se deve encontrar a causa da sua grande popularidade; as Bucólicas facultavam uma calma bem-vinda numa época perturbada.

No mais comentado destes poemas, o IV, o poeta prevê a vinda de uma idade de ouro a seguir às dilacerantes guerras civis, uma época em que a terra oferecerá aos homens ceifas doiradas, sem sementeiras prévias, em que a vinhas darão uvas sem ser preciso podá-las, em que o “rebanho não mais tremerá diante do leão, a serpente morrerá e o mel correrá como orvalho do tronco dos carvalhos”.

Esta idade de será anunciada pelo nascimento de uma criança que reinará como um deus num mundo de abundância.

Quem é esta criança cujo o nascimento é previsto pelo poeta em termos tão arrebatados? Piedosos cristãos julgaram ver neste poema primeira luz da estrela que guiou os sábios do Oriente para a manjedoura de Belém. As significativas imagens da Bíblia –o rebanho, os pastores, a serpente que devia morrer –reforçavam-lhe esta convicção: o porta referia-se a Jesus. [...]

Não é, evidentemente, impossível que Virgílio provêm de poetas helénicos e helenísticos mais antigos, como Píndaro, por exemplo, e de cânticos, universalmente conhecidos, sobre os felizes tempos da idade do ouro. Os discípulos de Platão e de Pitágoras estavam intimamente convencidos do iminente retorno dessa época; oráculos e sibilas tinham-no igualmente previsto. Parece que todas estas profecias tem sua origem têm a sua origem no Egipto, o primeiro país culto, berço de misteriosos conceitos místicos. Depois de todas as provações sofridas pela geração de Virgílio, o desejo de paz e a esperança de em breve a ver reinar sobre a Terra eram mais fortes que nunca. [...]

Um facto subsiste, porém: o poema foi feito por Virgílio e exprime um profundo sentimento de humanidade, a aspiração à paz, ao amor, à concórdia entre os homens. Originário das aspirações de Roma, das tradições orientais, ou misticismo helenístico, o poema traduz, com a forma belíssima, a tendência para a perfeição do homem individual e colectivo que domina a humanidade.

Embora a sua previsão se tivesse revelado inexacta, o poema de Virgílio contem um valor permanente: mostra-nos a atmosfera de uma época profundamente infeliz, em que cada um fazia votos pelo desfecho de uma situação inextricável, e revela o profundo valor moral, estimulante, da esperança.

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